A Economia das Praxes
A Praxe Académica está nas ruas.
Dizer que a praxe académica está aí seria errado pois a praxe académica faz
parte do próprio conceito de academia. Com integração, mais ou menos violenta –
física, psicológica e moralmente, os neófitos são introduzidos nas “tradições”,
nos “procedimentos”, nos “hábitos”. Com integração, mais ou menos violenta –
física, psicológica e moralmente, os investigadores e os docentes são
introduzidos nos corredores da vida universitária. A praxe sobre os
recém-chegados ao mundo universitário exacerbou o papel da praxe académica que
todos os que convivem em Universidade sentem. Desde a pressão laboral, a
indefinição contratual e as diretivas de publicação até ao preconceito (dos
iluminados com publicações ISI, dos doutorados no estrangeiro e dos que laboram
nas áreas mais industrializadas e nos campos científicos mais financiados), a
praxe universitária não se fica no mediatismo, no barulho nem na algazarra
boémia – vive-se nos corredores, nos silêncios dos gabinetes, nas considerações
mordazes, surdas e ensurdecedoras.
Mas hoje vou discutir o conceito
de Praxe mais comum – a que sai à rua. Vários Ministros do Ensino Superior,
vários reitores, vários colegas têm sugerido medidas – desde as mais inocentes
até às mais repressoras – de regulação da Praxe. Vários. Todos eles sem
eficácia. Ano após ano, a cena repete-se. Ano após ano, a instituição “praxe”
sobrevive. Ano após ano, discutem-se realidades suspeitas e oculta-se a
verdadeira responsabilidade.
Discute-se a boçalidade de alguma
cidadania nacional, discute-se a cultura de subserviência, discute-se o
salazarismo, discute-se a permissividade dos docentes, discute-se a conivência
das famílias, e discute-se, até, a ingenuidade das autoridades de segurança. E
o verdadeiro responsável sorri em silêncio.
O verdadeiro responsável pela
eternização (quer no tempo quer no calendário escolar) da Praxe é o setor da
restauração, nomeadamente o sub-setor dos bares. Termine-se a praxe, decresce a
faturação prolongada ao longo do ano académico. Termine-se a praxe, com as
borlas aos organizadores, aos padrinhos e aos intermediários, e cai a faturação
do sub-setor significativamente, levando à falência muitas unidades espalhadas
pelo país. A Praxe vive por essa estrutura económica, sustentada por milhões de
euros ao longo do ano que, em última análise, são responsáveis pela
sobrevivência do denominado setor dos “BA”, dos “bares académicos”. Obviamente,
terminem as praxes e terminam as Semanas do Caloiro com quebras na indústria
cervejeira avultadas (por Semana, em redor dos 2 milhões de euros), terminam as
compras adicionais de bebidas alcoólicas (fonte de receita fiscal importante) e
terminam os efeitos multiplicadores associados.
Esta Praxe vive por esta
Economia. Tem-se olhado só para as explicações sociológicas, psicológicas e
antropológicas com a eficácia que se vai vendo. Querer erradicá-la/mudá-la/aperfeiçoá-la
sem olhar para a explicação económica dos incentivos subjacentes é ineficaz.
Enquanto isso, recordo os meus tempos de Praxe, enquanto bebo um café. Num bar
académico. A praxe tem destas coisas.