Os opositores são o grupo que constituem a Oposição a uma organização institucional, a um ideário, a um programa ou a um projeto. A Ciência Política e a Economia tem demonstrado como a responsabilidade pelo Desenvolvimento Económico tende a ser partilhada pelos seguintes números: 40-42% pela qualidade do poder executivo, 30-35% pela qualidade da oposição a esse poder executivo e os remanescentes 23-30% pela qualidade da população em geral. Assim, o desenvolvimento de qualquer espaço é a combinação da qualidade dos três grupos; em contrapartida, o subdesenvolvimento, a pobreza ou a regressão é igualmente da responsabilidade de todos. Como sempre defendi, uma das belezas das democracias é a de que os eleitores merecem sempre os eleitos (quer os na execução, quer os na oposição).
Nenhum cidadão é integralmente oposicionista. Mesmo um golpe de estado, visto como o cenário mais abrupto de uma Oposição que pretende transformar as instituições vigentes de um modo não-reformista, nunca muda tudo. Assim, o cidadão que é oposicionista a uma posição numa câmara municipal regida por um determinado partido, tem toda a legitimidade e sobretudo consistência ideológica, em apoiar uma posição diferente defendida por esse partido num espaço maior. Também um grupo parlamentar nunca é sempre oposicionista. Nas democracias amadurecidas, existe uma aproximação real das preferências dos cidadãos entre si bem como um espetro alargado de preferências de cada indivíduo nos assuntos mais díspares. Desta feita, vários estudos têm mostrado como as dicotomias Esquerda-Direita estão muito mais esbatidas hoje do que há quarenta anos e como por exemplo não existe uma matriz já que permita na Europa dizer que existe um municipalismo socialista, um municipalismo comunista ou um municipalismo social-democrata ou liberal. O nosso país é uma imagem acabada dessa indiferença partidária. Assim, hoje ninguém consegue dizer em Portugal – também provado por vários estudos - que os municípios cuja maioria de vereadores é de uma cor política tem melhores indicadores sócio-económicos, populacionais, demográficos ou de gestão financeira do que os de outra cor política. O que há é municípios bem governados ou municípios mal governados. Os que são bem governados são-no sobretudo pela qualidade dos quadros técnicos que colaboram, da rede de pressão e de influência desses municípios no poder central e da própria ‘stamina’/vitalidade empresarial que detêm. Os que são mal governados raramente são-no por responsabilidade isolada dos presidentes de câmara e dos vereadores – são-no também porque os seus quadros técnicos apresentam debilidades várias, porque apresentam bloqueios de influência e finalmente por debilidades próprias, muitas vezes exogeneidades como a territorialidade ou os preconceitos “à la José Cid”.
A Oposição divide-se sempre em dois grupos. A Oposição interna responsável pelos ‘inside job’ que procura a promoção de alguns rostos e de alguns lobbies dentro da equipa vencedora, trabalhando em surdina, nos corredores, nos cafés da manhã, o vitupério, a calúnia ou o boato sobre os correligionários, sobre os vereadores do próprios partido, sobre os presidentes de junta que apoiam o executivo e suas ideias. Estas mensagens são raramente publicáveis e assim jamais desmentíveis ou refutáveis. E a Oposição externa, que tem voz nas instituições democráticas, nos parlamentos, e direito ao investimento ideológico que são os “votos de vencido”. Churchill chamava à oposição interna os seus inimigos e à externa os seus adversários (curiosamente Plutarco defendia que a grandeza de um político mede-se pela grandeza dos seus adversários e pela cautela dos seus inimigos). Geralmente a oposição externa fica não muito longe nem muito perto do poder – sorriem nos cafés do meio das praças municipais, jantam em lugares públicos em grupo, deixam-se fotografar com potenciais apoiantes e suplicam aos espaços mediáticos algum espaço para respirar. São forças de cerco e portanto apostam em subterfúgios, em ataques esporádicos, em esquemas de distração e finalmente, como a nossa Seleção campeã no Euro 2016 (que nunca foi favorita, recordemos), são inocentes como as pombas e procuram ser astutos como as serpentes (Mateus 10:16).
Quando uma Oposição concorre pela primeira vez para ganhar eleições, está estudado que tende a ter 1/3 de hipóteses de vitória, 1/3 de hipóteses de derrota com sabor a vitória (se perde por 35 a 40%) e 1/3 de levar cabazada. Portanto, agora que muitos preparam as próximas Eleições Autárquicas, seria bom que tivessem uma preparação da Gestão do Sucesso e do Insucesso (como a miríade de Psicólogos que trabalham hoje em dia nos municípios poderá referir) – o bom candidato é aquele que no seu esforço aumenta o “colesterol bom” (probabilidade de ganhar) mas também se prepara para reduzir o “colesterol mau” (preparando-se para ser um bom cidadão na oposição de qualidade). Aliás, os norte-americanos, que têm estatísticas para quase tudo, gostam de mostrar que um bom candidato perde triglicerídeos durante as campanhas, apesar das almoçaradas e dos piqueniques a que se sujeita para encontrar certo eleitorado.
Vale a pena parafrasear o saudodo a.m.cardoso (em “Vitrais”, poema Libertação, 2005, p. 21):
“E tanta gente assim – esperando um acaso
Que forceja negar-se!
Mas tudo tem o seu dia, tudo o seu prazo:
Ser é já realizar-se.”
domingo, 17 de julho de 2016
segunda-feira, 4 de julho de 2016
Os míldios
Este ano, o míldio atacou forte.
Escondido na natureza da videira, o agente responsável – um parasita,
encontrando condições favoráveis, como uma humidade persistente que este ano
foi notória, deflagra quando as temperaturas médias atingem valores mais
elevados e, mesmo para aqueles que foram previdentes, provoca quebras
acentuadas que na produção quer na qualidade da produção vinícola.
O míldio é o exemplo claro de um
agente exógeno ao esforço do viticultor. As condições favoráveis ao seu
desenvolvimento são exogenamente impostas à região atacada. A própria extensão
do problema parece aleatoriamente explicada. E portanto, se é aleatório, não é
justo/determinado.
A economia portuguesa está
repleta de míldios. Sobretudo três categorias de parasitas, perdão, de míldios:
o crédito bancário irracionalmente gerido, os lobbies políticos, e o berço.
Vamos dissecá-los.
O crédito bancário
irracionalmente gerido está por detrás da crise nacional do sistema bancário.
Se a crise de 2008 tinha ramificações com o virtuosismo da gestão bancária
internacional, apostada nos mercados derivados e numa análise inexistente do
risco (tantas vezes sob o preço das vozes prudentes ficarem arredadas nos
Conselhos de Administração), já as crises nacionais do BPN, BPP, BES/Novo Banco,
e etc são dependentes dos Míldios que se instalaram no sistema bancário, tão
longínquo de princípios de prudência ensinados nas Faculdades de Economia e de
Gestão de 1970 e 1980: toda a tesouraria deve refletir os movimentos de
faturação/liquidação; todo o fluxo monetário tem uma contrapartida de sentido
reverso de mercadoria; e todo o risco deve ter uma compensação na provisão em
função da margem de risco passado. Os Míldios levam a que os outros assinem ‘de
cruz’, instalam-se nos grupos de corredor, nos sorrisos de esgar, nas marcas da
António Augusto de Aguiar e nas costas esquecidas pelo burgo. Com condições
favoráveis, atacam, desaparecem por momentos, reaparecem quando convém.
Os lobbies políticos atacam
também quando convem aos interesses de alguns investidores. Um lobby político
tem bons contatos em pelo menos três partidos, preferencialmente do arco de
governação. Os lobistas são muitas vezes juristas (advogados e/ou solicitadores
com pouco trabalho de escritório e muito trabalho de rede social). Raramente,
os lobistas são homens do campo, mulheres a dias ou estudantes de universidades
do interior. Quando aparecem, fazem com que discursos de Esquerda pareçam de
Direita, com que gastos de Direita pareçam Despesa Social e finalmente as
opções que ontem um partido criticou pareçam hoje boas opções porque são
nossas. São os primeiros a defender que “Os produtos expostos são para consumo
da casa” e na rua apregoam “Se queres fiado, toma”. São bons rapazes, são boas
raparigas. A vida é que os fez assim. Conduzem viaturas em primeira mão
(adquiridas num valor superior a cinquenta mil euros) e investem no imobiliário
e em arte. Muito frequentemente não têm casa própria, portanto sem domicílio
fiscal. Com condições favoráveis, atacam, desaparecem por momentos, reaparecem
quando convém.
O berço é, sem cairmos na
arrogância de Proudhon, o roubo que a aleatoriedade genética atribui à
humanidade. É um míldio instalado na sociedade portuguesa, desde que os Filipes
foram embora (aliás Dom João Mestre de Avis, ele um bastardo, soube recompensar
os outros que como ele eram filhos da… mãe). Se alguém cujo pai foi Ministro
rouba, não é ladrão, mas um cidadão influenciável. Se alguém cuja mãe é
deputada não consegue estabilizar numa dúzia de relações amorosas em cada 6
meses, não é ninfomaníaca, mas uma figura social. Finalmente, se o tio é
comendador da República e o fulano contribui para o escoamento dos garrafões
das adegas do Alentejo não é um alcoólico, mas um bom provador de vinho. Na
terra, são rapazes e raparigas ditos de “boas famílias” quando os antigos mordomo/caseiros
ouvem cochichos no café sobre os “meninos” (pobres dos bisavós que eram
cavadores), gostam dos assentos autárquicos e de pertencer às Mesas das
Cooperativas, das Misericórdias e das Associações Filantrópicas e Humanitárias
dos Bombeiros Voluntários. Portanto, como os outros míldios, com condições
favoráveis, atacam, desaparecem por momentos, reaparecem quando convém.
E para estes míldios de duas
pernas e oito barrigas não basta sulfato nem enxofre. Se a República não
chegar, há sempre mais mundo para lá do Marão.
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