sábado, 23 de abril de 2016

Depois da festa

Prince deixou de cantar novas canções nesta semana. Mas além de uma carreira notável na pop, deixou um sem-fim de citações curiosas. Como aquela que refere “A vida é uma festa. E as festas não são feitas para serem demoradas.”

O problema maior, sobretudo para a organização de uma festa, está no “depois”. Depois ninguém quer limpar os resíduos de momentos de convívio, de alegria ou de fantasia. Depois, ninguém quer saber dos custos (aliás, Bernie Ecclestone referia que de manhã nunca se fala a um cavalheiro sobre a última noite nem sobre dinheiro…) Finalmente, depois da festa, ninguém quer ficar desiludido com a imagem real de um momento idealizado.

Foi publicado no último mês o artigo que co-assinei com a polaca Justyna Garbacz e com Cadima Ribeiro sobre “Discussing the posthosting evaluation of a mega sporting event: The perception of Warsaw Residents toward UEFA EURO 2012”. Este artigo foi publicado na prestigiada Tourism and Hospitality Research. Nesta investigação, perguntámos aos habitantes de Varsóvia, no período entre 2013 e 2014, o que pensavam depois da festa que foi o Euro 2012. Quando se discutem mega-eventos (desportivos ou culturais), existem sempre três momentos de análise: o antes (onde prevalecem imagens extremamente positivas, idealizadas e sobreestimadas), o durante (onde prevalecem perceções dependentes da euforia do momento), e o depois (onde se sente o corps-de-fond, isto é, a essência da fragrância que fica depois do éter). Neste corps-de-fond (os leitores que têm a felicidade de conhecer bons perfumes sabem que o bom perfume também tem três corpos, os rascas só têm álcool…) ficam as perceções realistas, onde a par dos benefícios que foram atingidos (todos os mega-eventos têm benefícios) há um cômputo dos custos (todos os mega-eventos têm custos). E sobretudo há uma ideia muito mais clara de quem ficou com a maioria dos benefícios (há sempre quem fique com mais benefícios do que outros nos mega-eventos) e de quem arcou com a maioria dos custos (há sempre quem pague mais do que o devido na fatura dos mega-eventos).

Convidando para uma leitura atenta do artigo, sobretudo por parte de quem se interessa com eventos que dependendo da escala podem ser identificados como mega-eventos, observou-se que a generalidade dos habitantes de Varsóvia reconhece que o Euro 2012 exportou uma imagem modernizada da Polónia bem como aumentou o amor-próprio polaco. Em contrapartida, as grandes desilusões foram identificadas na criação de rendimento nacional, de emprego local e no reconhecimento do aumento da insegurança e da criminalidade.

A boa gestão da imagem destes epifenómenos é sinal de maturidade. Assim como os digestivos, os sais de fruta, pastilhas Rennie ou o famoso quarto da “água das Pedras” ajudam depois da festa, uma gestão política cuidada também se impõe nestes momentos, não só na mensagem veiculada, como na antecipação dos vários cenários.